Quantitative Easing: entenda como o Banco Central injeta dinheiro na economia.

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O estudo da moeda talvez seja aquele que mais causa controvérsias entre os economistas. Dessa forma, o quantitative easing, afrouxamento da política monetária, é um dos assuntos que geram enormes divergências.

Nesse sentido, é essencial entender quais são as causas, a forma como ocorre e as consequências que o quantitative easing acarreta às economias e, principalmente, aos mercados.

O que é quantitative easing?

Introduzido durante a crise hipotecária de 2008, o quantitative easing (QE) se caracteriza por ser uma forma dos bancos centrais reduzirem a rigidez da política monetária adotada.

Para realizar o QE, os bancos centrais compram os títulos públicos e privados e, com isso, aumentam a oferta de moeda na economia, mas sem que ela chegue de forma direta nas mãos da população.

Assim, a adoção dessa forma de aplicação da política monetária se dá com vistas a:

  1. Aumentar o nível da atividade econômica do país, após choques que a levaram para o terreno de deflação;
  2. Aumentar a taxa de inflação, uma vez que ela é adotada em momentos de baixa atividade e, consequentemente, níveis abaixo do normal na economia;
  3. Redução de taxa de juros, com foco em reduzir o custo do crédito na economia.

Dessa maneira, o QE é uma das principais ferramentas utilizadas pelos bancos centrais quando esses precisam impulsionar a economia sem a impressão direta de moeda.

Salienta-se que essa medida é adotada para que seja possível sair de grandes crises econômicas, as quais reduzem drasticamente o nível de atividade dos países.

Entretanto, é comum se deparar com essa forma de atuação do banco central em cenários em que a economia não necessita, mas é uma forma de impulsioná-la e, com isso, manter a população consumindo.

Por esse motivo, ao estimular a economia de forma artificial, essa forma de política monetária causa muitas divergências entre os economistas, que se dividem em grupos que concordam e discordam dos resultados obtidos.

Como funciona o quantitative easing?

O fluxo operacional do QE segue, basicamente os seguintes passos:

  • Redução das taxas de juros;
    • Aumento da oferta de crédito barato;
  • Redirecionamento dos investimentos.

No que versa a compra dos títulos, o Banco Central utiliza as suas reservas, as quais já são computadas no balanço, para comprar os títulos públicos e privados, que em geral apresentam horizonte de longo prazo.

A injeção de papel moeda é consequência da compra dos títulos, entretanto não se dá de forma direta à população.

Nesse sentido, o dinheiro que chega para as instituições bancárias pode ser utilizado de diversas maneiras, sendo a mais comum, o aumento da oferta de empréstimos.

Nessa linha, alinhando o aumento da oferta de moeda na economia com a redução das taxas de juros, é possível aumentar a oferta de empréstimos a taxas mais baixas e com melhores condições de contratação.


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Além disso, a queda da taxa de juros tende a desestimular os investimentos em renda fixa, os quais passam a pagar pouco, impulsionando os desejos por maiores lucros via empreendimentos e investimentos em outros ativos.

Com esse rebalanceamento das carteiras, os ativos de renda variável passam a valer mais, tudo por conta do aumento da demanda mantida a oferta fixa, ocasionando frenesi no mercado de capitais.

Todos esses itens juntos acarretam o estímulo à economia que estava em depressão, o que permite maior tranquilidade para o mercado financeiro e, consequentemente, aumenta a inflação do país.

Dessa forma, o Banco Central consegue contornar a situação da armadilha de liquidez, desenvolvida por Keynes, na qual mesmo com corte da taxa de juros a economia não reage, pois as instituições financeiras não se sentem confortáveis em aumentar a oferta de crédito.

Quais são os riscos e as desvantagens do quantitative easing?

Apesar de ser uma medida adotada com vistas a melhorar o cenário econômico de recessão de um país, por se tratar de uma forma artificial de criação de papel moeda ela acarreta inúmeras consequências às populações.

Por essa característica e, por ser sinônimo de aumento da moeda na economia, é comum se deparar com opiniões divergentes a respeito da efetividade ou não dessa forma de política monetária.

Nesse sentido, após a utilização desenfreada do quantitative easing, os países tendem a se deparar com elevados índices inflacionários, podendo, até mesmo, sofrer com cenários de hiperinflação.

Isso ocorre, uma vez que, em um cenário de aumento da oferta monetária sem que ocorra um aumento na produção do país a demanda pelos produtos e serviços aumenta, ficando acima da oferta.

Soma-se a isso, a elevada desvalorização da moeda, o que implica em maiores dificuldades e custos para os agentes importarem produtos, mas em contrapartida, as exportações são estimuladas com a desvalorização cambial.

Exemplos de aplicação do quantitative easing.

Conforme mencionado no início do artigo, a utilização da política monetária baseada no quantitative easing teve origem com a crise de 2007-2008, com a crise das hipotecas norte-americanas.

Assim, com vistas a contornar as implicações da queda da atividade econômica e, buscando salvar algumas instituições da falência, como ocorreu com a quebra do lehman brothers, o Federal Reserve passou a injetar dinheiro na economia via compra dos títulos privados.

Nesse sentido, a política permitiu que os bancos saíssem do aperto em seus balanços, uma vez que seus balanços ficaram livres das montanhas de hipotecas ‘subprime’.

Com isso, a atividade bancária voltou ao normal, tendo se restabelecido no país, o que culminou na retomada da confiança do público nas instituições financeiras mais tradicionais. 

Após a crise de 2008, ocorreram mais duas crises em que bancos centrais recorreram a esse modelo de política econômica, mais especificamente o Banco do Japão (BoJ) e o Banco Central Europeu (BCE).

A última vez em que foi necessário utilizar o quantitative easing foi durante a crise sanitária do coronavírus, onde os bancos centrais pelo mundo passaram a atuar de forma muito parecida para contornar os desdobramentos que o vírus causou para a economia.

Guilherme Almeida
Guilherme Almeida
Bacharel em Economia e Especialista em Finanças Corporativas e Mercado de Capitais pelo Ibmec-MG. Mestrando em Estatística pela UFMG, atua como professor, palestrante e porta voz das áreas de economia e finanças, tendo concedido mais de mil entrevistas para os principais meios de comunicação. Atualmente, leciona matérias ligadas à Economia e ao Mercado Financeiro em cursos preparatórios para certificações financeiras, além de ser o Economista-Chefe do departamento de Estudos Econômicos da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio MG).